“A few good men” e sua relação com o Direito Criminal

O filme lançado em 1992, “A few good men”, narra um julgamento realizado pela Justiça Militar, de um cabo e um soldado, acusados de matar outro soldado na Base Naval de Guantánamo.


Apesar do enredo fictício, o longa tornou-se um clássico pela forma magistral com as questões da necessidade da implementação prática da disciplina exigida em uma instituição como o Exército Norte-Americano.


A trama se desdobra em um tribunal militar, onde verdades obscuras e lealdades são postas à prova. Com performances brilhantes, e diálogos inesquecíveis, “A Few Good Men” é um thriller jurídico que questiona a ética, a honra e a verdade no mundo militar.


Em uma perspectiva mais profunda, em um mundo pós guerra fria ainda com profecia do Fim da História, o debate travado no filme é localizado justamente no clímax da discussão entre os personagens interpretados por Tom Cruise e por Jack Nicholson, famoso pelo bordão “You need me on that wall, You want me on that wall!” quando este é perguntado se assentiu com o “código vermelho”, causando o descarte da vida de um soldado em prol de uma suposta garantia de Segurança Nacional.


Apesar do desfecho do filme indicar uma resposta para o debate construído paulatinamente durante o longa, afinal de contas, É possível flexibilizar um Direito Fundamental, a complexidade da trama pode ser compreendida para um visão mais cinza do exercício do poder estatal não a partir dos limites declaradamente impostos a si ou mesmo idealmente exigíveis, mas sim, afinal de contas, o quê, como e quando cada um de nós flexibiliza esse Direito, ainda que de forma íntima ou mesmo inconsciente.


A perplexidade do personagem de Tom Cruise ao lidar com tais questões durante o diálogo clímax do filme não foi capaz de inibí-lo a cumprir seu papel enquanto um advogado da Marinha, que no julgamento cumpre o papel de um Promotor de Justiça, mas é sem sombra de dúvida uma perplexidade que, apesar de vencida na cena final do filme, tornou-se o grande ponto de inflexão que sempre volta neste tipo de debate e, tomando por contexto as Forças Armadas dos EUA ou mesmo sua política externa, certamente o desfecho que se viu sempre foi diferente.


A few good men” fala de um mundo do passado, suplantado por outra ordem mundial que, pelo menos em seu discurso, não mais aceitava certas flexibilizações pelas mesmas estarem “antiquadas” frente a um mundo moderno que se descortinava de ameaças externas que obrigavam as pessoas a “viver de certa forma” – mas tomando o personagem de Jack Nicholson como representante desse mundo antigo, “vencido”, “não mais necessário”, e ao mesmo tempo as escolhas de Política Externa ou mesmo de Política Criminal, a produção legislativa em matéria criminal e afins, é de se perguntar, afinal de contas, o que deste mundo ainda ficou vivo, e em especial, o que há de nele, em nós.

Por: Fernando Henrique Cardoso Neves

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