Um advogado de linha de produção sem perspectiva e um desiludido advogado de direitos humanos da ONU – esses são os personagens que protagonizam nossa indicação do FHC Cultura dessa semana. Gary Oldman e Antonio Banderas lideram a narrativa do Panama Papers assim como quebram a “quarta parede” para interagir com os telespectadores e simplificar uma conversa jurídico-burocrática em “A Lavanderia”.
PANAMA PAPERS é mais um dos “vazamentos” feitos pelo ICIJ – International Consortium of Investigative Journalists acerca de escândalos envolvendo Lavagem de Dinheiro e Sonegação Fiscal. Assim como os PANDORA PAPERS, PARASIDE PAPERS, OFFSHORE LEAKS e outros, a evidência de que há uma criminalidade financeira mundialmente organizada que se vale de determinados tipos de criminalização para afastar os holofotes de seu funcionamento é corroborada pelos trabalhos feitos pelo ICIJ, principalmente quando uma série de pessoas direta ou indiretamente ligados a cargos políticos aparecem em suas listas.
Mais do que isso, e quando aparecem órgãos de fiscalização, prevenção e combate desses mesmos crimes nas investigações? O longa-metragem de Steven Soderbergh com produção da Netflix não vai tanto nessa reflexão, mas se utiliza da ironia e simplicidade para tentar explicar como foi orquestrado o “golpe” pelo escritório Mossack Fonseca que se utilizava de uma grande estratégia global de elisão fiscal que inclusive passa pelos EUA.
Para além do escândalo de ter o guardião do mundo do século XX desnudado como alguém que faz vista grossa a depender de quem, o documentário-ficção trouxe a quebra da quarta parede, como nos longas do mesmo gênero de Adam Mackay “Big Short” e “Vice”, dentro de um outro contexto, a saber, da reforma tributária dos Estados Unidos.
Uma análise mais detalhada do tom do filme e de como esse contexto revela uma altivez de Hollywood, sugiro a leitura da crítica do Marcelo Hessel, em https://www.omelete.com.br/netflix/criticas/a-lavanderia-critica. Por outro lado, a explicação “simples” de operações muito “juridicamente complexas” desvelam pontos interessantes próprios dos objetivos da linguagem jurídica ser como é e seu efeito de distanciamento e ilusionismo frente aos absurdos que sustentam – de todo modo, “A Lavanderia” é um divertido passatempo onde se pode observar parte da operação feita e como ela foi descoberta, e apreciar certas inserções de figuras políticas reais que se pronunciaram sobre o tema como se o episódio se tratasse do fim do crime que, como se sabe, nunca acaba.
Por: Fernando Henrique Cardoso Neves
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